A VIAGEM

3:14 PM

02 de Setembro.
Anita não imaginaria o que estava prestes a acontecer naquele dia. Entrou no avião que ia para Londres e procurava o seu assento. Ela gostava de chegar bem cedo e entrar logo para ter certeza de que estava no lugar certo, no voo certo e para que nada desse errado. Sentou-se na sua poltrona ao lado da janela, pegou um livro de romance que havia colocado dentro da bolsa justamente para esta ocasião.

O avião foi sendo preenchido de pessoas a cada minuto mais. E para surpresa de Anita a pessoa que sentou ao seu lado foi Roderick. Primeiro ela olhou por olhar quando o rapaz assentou-se ao lado dela e quando se deu conta de quem era olhou novamente e queria enfiar a cabeça e o corpo em qualquer outro lugar, mas não queria estar ali, pois não fazia ideia do que poderia fazer se fosse passar as 12 horas de voo com ele ali.

Roderick deu uma espiadela para a moça estranhamente conhecida ao seu lado e percebeu que realmente a conhecia. Já que ele estava ali e não tinha jeito de fugir para lugar algum, cumprimentou Anita:

- Oi!
- Oi! - Anita sorriu sem graça. Os olhos arregalaram-se e as bochechas coraram.

Roderick percebeu que ela ficou um pouco desconfortável e isso fez com que ele ficasse também.


"Parece que ela tá tão ansiosa quanto eu. É uma situação complicada, mas foda-se. A culpa não foi minha pelo o que aconteceu. Talvez seja melhor eu puxar algum assunto, não sei. Ou deixa-la ler o livro. É melhor... vou ficar na minha esperar a decolagem e sossegar. Isso." Pensou Roderick.

Anita não sabia o que deveria fazer, só ignorar e ler o livro ou se deveria conversar com ele. Olhou para o livro, mas não leu nada, só pensava no que poderia falar e começou a lembrar do passado, imaginando se nada daquilo tivesse acontecido, se eles dois ainda estariam juntos e bem. Se teria sido diferente.

- Tá indo pra Londres a trabalho ou férias? - Saiu rapidamente da boca de Anita e ela se arrependeu segundos depois.
- Trabalho e você?
- Também.

E o silêncio voltou a assolá-los. 

"A vida é uma vadia mesmo. Eu poderia ter pego qualquer outro horário de voo ou ele, mas não tínhamos que pegar a merda do mesmo voo, claro. Obrigada, vida! Você é muito legal, uma pessoa incrível e amada por mim." Pensou Anita.

- Como tá a vida? - Anita soltou bem baixinho.
- Ham?
- Como tá a vida? - Perguntou mais alto.
- Tô bem, a vida tá boa. E você?
- É, tá bem... tô indo. Muito trabalho sabe...
- Sei.

A cada vez que o silêncio voltava Anita fechava os olhos esperando que um buraco se abri-se e que ela caísse do avião e morresse. Aquele voo seria uma tortura. Se ela acreditasse em algum deus ela estava pensando ser alguma piada divina. 


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Depois de um tempo de voo e quietude, houve uma turbulência que deixou todos os passageiros um tanto assustados. Quando se estabilizou, Anita percebeu que havia segurado na mão de Roderick e ele percebeu um pouco depois também. Olhou para a mão dela na mão dele e ficou sem reação, eles se entreolharam e tiraram as mãos.

- Desculpa! - Disse Anita.
Ele só fez que sim com a cabeça.

Roderick achou que seria tão diferente esse reencontro, quando acontecesse, seria um reencontro casual no meio da rua e que seria um oi e tchau e depois levaria mais uma eternidade para se verem novamente. Entretanto, o destino, colocou os dois ali, para uma situação desagradável. 

- Tá morando onde? - Anita fez mais uma pergunta jurando que seria a última tentativa de papear.
- Tô na capital agora e você? Mora no mesmo lugar?
- Não, tô na capital também. - Ela pensou em mais uma pergunta, mas hesitou por alguns instantes. Então fez a pergunta - Tá namorando? Saindo com alguém?
Dessa vez ele a encarou, para Anita ele estava sério, mas era uma expressão neutra.
- Não.

Dessa vez ele não perguntou um "e você?", mas simplesmente negou. Anita entrou em um desespero por ter feito aquela pergunta. "Agora só vou esperar pra você cair, avião. Caia logo! Vamos todos morrer, por favor! Não quero mais isso, pelo amor de deus". A solução da moça era dormir.

- Ric...Roderick, vou dormir um pouco. Estou cansada. Trabalhei até tarde ontem e tive que acordar cedo pra pegar o voo. - Disse Anita, percebendo que não precisava dar nenhuma explicação para aquele estranho que um dia ela conheceu tão bem.
- Ok. Durma bem, então. - Disse ele, toda a tensão que ele sentia, relaxou.


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Algumas horas depois Anita acordou e Roderick estava ouvindo música. Quando ele percebeu que ela havia acordado tirou os fones e sorriu, riso sem graça:

- Me desculpa se pareci rude enquanto tentava puxar assunto comigo e não dei muita conversa. É que, sei lá, não sei como reagir a isso. 
Anita ainda meio lenta por ter acordado disse:
- Ah! Tudo bem. Eu entendo... é que é um pouco desconfortável sabe... você e eu, algumas horas juntos. Tava tentando deixar mais confortável, mas não consegui. - Riu - acho que é melhor ficarmos em silêncio, como se não nos conhecêssemos. 
- É... talvez seja melhor. Mas é difícil fingir que nada aconteceu.
- Sim, verdade.

Eles se entreolharam.

- Talvez, reviver o passado por um dia não fará mal - Disse ela.
Ele hesitou um pouco, mas fez que sim. Se aproximaram. Beijaram-se. Anita não estava acreditando no que estava acontecendo, Roderick menos ainda. Ele não imaginaria nunca que aquilo pudesse acontecer de novo, tinha falado a si mesmo que jamais aconteceria. 
- Não sou um cara de palavra - disse ele.
- Por que? 
- Porque não pensei que faria isso, não repetiria isso, depois do que a gente passou.
- Entendo...
- Mas é bom, repetir, de vez em quando.
Anita sorriu e fez que sim.

"Ainda bem que a mulher que está do lado dele está dormindo, acho que seria estranho... dois 'estranhos' se beijando do nada né?! Eu acharia estranho, sem contar que é desconfortável quando se segura vela para amigos, mais ainda pra desconhecidos não?!" Pensou Anita enquanto beijava o rapaz. 

- Sabe uma coisa que nunca fiz?
- O que? 
- Sexo em um avião!
Ele caiu na gargalhada. Anita tinha sentido falta daquele som.
- É sério! O que acha?
- Que nunca fiz também.

Ele foi na frente. O que acabou acordando a moça que tava na fileira deles. Anita aproveitou e foi logo também. Ela bateu na porta do banheiro, ele abriu e ela entrou. 
Beijaram-se, ele tirou a blusa dela e ela a dele e abriu a calça. Ele começou a beijar o pescoço dela, enquanto suas mãos passeavam por todo o corpo de Anita...


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Anita acordou babando e Roderick olhava estranhando, com vontade de rir.
Ela olhou assustada pra ele e ficou de todas as cores que poderia ficar, sem graça, mesmo sabendo que ele não poderia imaginar o que ela tava sonhando.

"Meu deus! E se eu tiver falado algo? Se eu tiver falado o nome dele? JESUS! E se eu tiver feito outra coisa? Ai credo! Não pode ser... quando eu era criança eu tinha o dom de falar enquanto dormia e se eu o fiz agora... queria estar morta!" Pensou ela.

- O que foi? - Disse ela tentando soar um pouco nervosa, mas não conseguia disfarçar que estava sem graça.
- Você tava babando e rindo. Foi engraçadão. - Ele riu.
Ela revirou os olhos e o ignorou.
- Sonhou com o que?
- Não sei, não lembro.
Ele apenas sorriu.


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Depois das 12 horas de viagem, finalmente, eles chegaram. Era um alívio tanto pra ele quanto pra ela.

- Então, tchau! Bom revê-lo!
- É... bom revê-la, também! Tchau!

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Ela chegou no hotel e foi até a recepção para fazer o check-in.

Ela ouviu uma voz conhecida dizendo "I want to check-in". Então Anita olhou para o lado e viu que era Roderick, revirou os olhos e disse mentalmente "SERIOUSLY????". Ele olhou para o lado só para observar o local mesmo quando viu Anita e pensou "Puta que pariu! Mas que porra é essa? Vai ser uma viagem interminável!".

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